domingo, 31 de agosto de 2008

Romance de Vila do Conde


Vila do Conde, espraiada

Entre pinhais, rio e mar!

- Lembra-me Vila do Conde,

Já me ponho a suspirar.

Vento Norte, ai vento norte,

Ventinho da beira mar,

Vento de Vila do Conde,

Que é a minha terra natal!

Nenhum remédio me vales e me não vens cá buscar,

Vento norte, ai vento norte,

Que em sonhos sinto assoprar...

Bom cheirinho dos pinheiros,

A que não sei outro igual,

Do pinheiral de Mindelo,

Que é um belo pinheiral

Que em Azurara começa

E ao Porto vai acabar...

Se me não vens cá buscar,

Nenhum remédio me vale

Nenhum remédio me vale,

Se te não posso cheirar...
Vila do Conde espraiada

Entre pinhais, rio e mar!

- Lembra-me Vila do Conde,

Mais nada posso lembrar.

Bom cheirinho dos pinheiros...

Sei de um que quase te vale:É o cheiro da maresia,

- Sargaços, névoas e sal -

A que cheira toda a vila

Nas manhãs de temporal.

Ai mar de vila do Conde,

Ai mar dos mares, meu mar!

Se me não vens cá buscar,

Nenhum remédio me vale,

Nenhum remédio me vale,

Nem chega a remediar
Abria de manhãzinha,

As vidraças par em par.

Entrava o mar no meu quarto

Só pelo cheiro do ar.

Ia à praia e via a espuma

Rolando pelo areal,

Espuma verde e amarela

Da noite de temporal!

Empurrada pelo vento,

Que em sonhos ouço ventar,

Ia à praia e via a espuma

Pelo areal a rolar...
Vila do Conde espraiada

entre pinhais rio e mar...


José Régio

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